Amo minha mulher, os meus filhos e a minha família. Gosto de viver, cantar e contar piadas.

Mario Feres (30/04/1967 - 01/04/2011)

Mario Feres - O louvor vem do povo


por *José Márcio Castro Alves

Papel aceita tudo. De cheque sem fundo a dinheiro falso.
"O louvor vem do povo", dizia o Tom Jobim. Não vem das bancas de doutorado que, não raro, dão nota dez com louvor à dissertações medíocres e teses minúsculas.
O músico Mário Feres é um exemplo clássico do artista que é ovacionado por talento e não por ter diploma de músico ou arranjador, o que, aliás, não possui, a não ser o de bacharel em odontologia.
Quem o conhece ou já ouviu a sua musicalidade o aplaude naturalmente, pois é impossível não fazê-lo. Possuidor de uma educação musical requintada e um ouvido absoluto, faz amizade como quem bebe um copo d’água. A sua casa é um viveiro de criação musical e um porto de fãs que se tornaram amigos exatamente por serem amigos do casal Mário Féres e Vânia Lucas, cantora e professora de música.
Sua vinda pra Ribeirão preto foi um caso de amor.
--- Ribeirão veio depois do carnaval de 1993, diz ele. Eu precisava sair de Marília, pois não tinha mais mercado de música por lá. Escolhi Ribeirão porque gostava da cidade; já tinha passado muitas férias com primos por aqui e meu irmão já era médico - residia na cidade havia 13 anos. A Vânia se mudara antes um pouco, e então juntei meus trapos e vim tentar a vida e o amor em Ribeirão. Cá estamos há 18 anos.

Foi em maio de 1995 que liguei pro Paulo Jobim, filho do Tom, e disse:
--- Paulinho. Armei um show aqui em Ribeirão pra você conhecer o único Tom Jobim possível (Tom Jobim havia falecido em 4 de dezembro de 1994).
Dito e feito. Do aeroporto fomos direto pra casa do Mário e Vânia, à época, um apartamento miudinho no Jardim Irajá.
Passaram a tarde juntos e a noite se apresentaram num show memorável.


Depois o Paulo Jobim o apresentou ao Rio de Janeiro e o levou numa excursão à Europa onde tocaram nos melhores teatros do mundo, com casa cheia. Casa cheia porque o atrativo era a música do Tom Jobim, tocada por eles. Se fosse a minha não lotaria nem uma Kombi.
Quando o Paulo Jobim foi fazer o livro Cancioneiro Jobim, a melhor obra sobre as canções do maestro, chamou o Mário Feres pra escrever algumas partituras.
O nome do Mário Feres está no livro Cancioneiro Jobim numa porção de canções importantes em que as partituras haviam sumido. Através de gravações antigas que o Paulo Jobim enviava, o Mário as recuperou e as pôs no papel, escrevendo a melodia e harmonia pra piano.

Outra ocasião o músico e maestro Jaques Morelenbaum o levou para a Alemanha, onde fizeram apresentações com a orquestra sinfônica de Hanoover. Quem ouve o disco se extasia ante a grandeza e a qualidade da música e do piano do Mário.
Esse é o Mário Feres, um amigo de todo mundo, uma pessoa que vai na feira e é cumprimentado por uma porção de anônimos.
Todo mundo gosta do Mario, um músico sem diploma e que é aplaudido naturalmente por qualquer pessoa que venha a ouvir a sua música. E sempre dão nota dez pro Mário, dez com louvor.

*José Márcio Castro Alves é jornalista, mas sem diploma.

O Mário foi o primeiro a comentar. Que saudade da sua candura, tão educado, tão doce com todo mundo...

O Zé Márcio além de grande amigo, é um grande jornalista, escritor, cronista, editor de filmes, conhecedor de história, cinema, as artes todas, do clássico ao contemporâneo e é esse sujeito simples, que exibe seu sotaque curiboca com orgulho e mostra com elogios aos outros e brincadeiras inteligentes o quanto é sábio, companheiro e eterno! sim porque essas pessoas quando entram na vida da gente são eternas, não dá mais pra viver, pensar em amigos e em momentos especiais, sem pensar no Zé!
ps. ele só é formado em Agronomia!

Mário Feres em 30 de janeiro de 2011

11 comentários:

  1. O Zé Márcio além de grande amigo, é um grande jornalista, escritor, cronista, editor de filmes, conhecedor de história, cinema, as artes todas, do clássico ao contemporâneo e é esse sujeito simples, que exibe seu sotaque curiboca com orgulho e mostra com elogios aos outros e brincadeiras inteligentes o quanto é sábio, companheiro e eterno! sim porque essas pessoas quando entram na vida da gente são eternas, não dá mais pra viver, pensar em amigos e em momentos especiais, sem pensar no Zé!
    ps. ele só é formado em Agronomia!

    Mário Feres em 30 de janeiro de 2011
    30 de janeiro de 2011 06:16

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  2. Muito bem. Um texto à altura da grandeza do Mário Féres.

    Rosana Zaidan
    30 de janeiro de 2011 06:48

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  3. Estrela brilhante, de primeira grandeza. Lendo este texto do José Márcio, só se pode sentir gratidão, por ele ter conseguido expressar tudo o que todos nós gostaríamos de dizer sobre o Mário. Maravilhoso.
    Iara Restini
    30 de janeiro de 2011 12:34

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  4. Que delícia apreciar os dois textos: do Zé e do Mário Feres. Dois sujeitos ímpares e que fazem a gente se emocionar sempre!!!! Sou fã dos dois!

    Ana Flora
    30 de janeiro de 2011 16:17

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  5. Zé, agora mesmo eu estava conversando de música e músicos com um outro músico dos bons, o Toninho Diniz, e ele me disse que conheceu dois fenômenos: André Mehmari e Mário Féres.
    Sorte nossa que pelo menos um deles é nosso "chegado" e tá sempre por perto, com sua música e bom humor. Belo texto.

    Negrão
    31 de janeiro de 2011 13:32

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  6. Vai deixar Saudades...
    Que continue brilhando e tocando suas
    canções onde quer que esteja.
    1 de abril de 2011 07:47

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  7. Conheci o Mario no Programa do Jo....Fiquei chateada em saber de sua morte. Perdemos mais um dos bons né, Ze?

    Ana Frighetto
    1 de abril de 2011 11:22

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  8. Grande perda para a mulher, filhos, família e amigos.
    Não o conheci pessoalmente, mas através de um amigo, Celso Miguel, que não só me ensinou a admirá-lo como rezamos juntos durante sua doença para que o melhor, para ele fosse feito por Deus.
    Se o melhor para ele era a partida, só nos resta o conforto de saber que ninguem morre enquanto é lembrado. Ele estara sempre vivo na saudade de todos que o amam.
    Silvia
    2 de abril de 2011 05:36

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  9. Nunca vamos esquecer os momentos que passamos na casa deste casal fantástico idealizando as músicas que seriam tocadas em nosso casamento: Mário nos emocionou - e nos conquistou - ao piano enquanto tocava canções como "Por toda a minha vida" e Vânia preparava algo em seu fogão à lenha...

    Obrigada pelo presente que foi ter vocês ao nosso lado naquele que foi o momento mais feliz de nossas vida!

    Mário: com certeza você continuará a brilhar para sempre em nossos corações e em nossa memória. Descanse em paz.

    Lucas e Fabiana De Laurentiis
    2 de abril de 2011 09:40

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  10. Que honra ter conhecido o grande Mario Feres... Ter vivido toda minha vida perto dele, da Vania e de seus filhos! Foi meu mestre no violão... mas mais do que isso: meu amigo, tio e pai.

    Sempre que eu tocar uma música, sei que o Marião vai estar comigo. E isso me deixa feliz!

    Agora só fica a saudade... e que saudade!!

    Ana Pessoa
    3 de abril de 2011 17:00

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  11. Ontem estive com amigos na casa do Paulinho Brasília e não teve como não lembrar do Mário. Lembrei ao meu irmão Du Bordini que o Mário foi integrar a orquestra celestial no dia do aniversário dele, 1º abril, parece mentira...
    Conheci o Mário no Barmania, quando ele estava lá mandando ver nas músicas do maestro soberano e enviei um bilhetinho pedindo para ele tocar Olha Maria. Ele tocou lindamente, como sempre, porque não adiantar manjar da técnica, das harmonias, se não tiver sentimento. E isso ele tinha de sobra!!! Depois ele quis saber quem tinha pedido a música e os meninos lá do Bar falaram: "foi o Fabião ali". Lembro dele chegando e falando: "Pô, valeu pela música! Você é músico?" Essa pergunta do Mário me encheu de orgulho. Embora nunca tenha sido músico, tenho a música e a poesia na alma e no coração. E aí começou nossa amizade. Ele me chamava de "meu amigo jobiniano", dada a paixão comum por essa entidade, essa instituição, esse "homem vasto" chamado Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Convivi muito menos do que desejava com o Mário, mas guardo com imensa saudade e carinho as tantas madrugadas que estive no Barmania, contemplando esse gênio da raça chamado Mário Feres, e depois que o show acabava desfrutando da nossa amizade de copo. E também como não lembrar quando aconteceu o que tinha de ser, quando o Marião foi para o mundo encantar e inebriar com seu talento e sua magia. Lembro do imenso orgulho que senti quando o vi como integrante do Quarteto Jobim Morelenbaum aqui nosso no Pedro II. Muita estória, muita história. Tenho o celular dele nos meus contatos até hoje. Nunca apago gente querida que sempre parte cedo demais. Marião, de onde você estiver, dá aquele abraço no Tom por mim. Um beijão do seu amigo jobiniano!!!

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